O tabagismo é uma dependência química e considerada como uma doença crônica pela OMS (CID10 F17). Não há quantidade segura para o consumo de cigarros. A ligação da nicotina aos receptores cerebrais provoca a liberação de dopamina em quantidades maiores do que as que normalmente temos circulando no organismo. Ela tem papel fundamental na homeostase das sensações: tristeza, angústia, alegria, prazer, etc. Após fumar, entre 20-40 minutos, com a diminuição do nível sérico da nicotina e dopamina, ocorre a síndrome de abstinência/fissura.
A dependência química produzida pelo cigarro tem três componentes: (a) Físico: o organismo se acostuma a receber certa dose diária da substância psicoativa, no caso a nicotina, e quando a pessoa deixa de fumar, o corpo precisa se adaptar a ausência dessa substância (Síndrome de Abstinência); (b) Psicológico ou Emocional: o cigarro atua, muitas vezes, como um amortecedor para emoções, sejam elas agradáveis ou desagradáveis; (c) Comportamental: todo fumante desenvolve rituais no uso de cigarros e associa o hábito de fumar com algumas atividades cotidianas, por ex., tomar café.
A ambivalência (querer deixar de fumar versus seguir fumando) está presente no fumante e faz com que o mesmo permaneça em uma situação de conflito permanente: 80% sabem dos riscos de continuar fumando mas não conseguem interromper o seu uso.
O tabagismo está associado a mais de 50 doenças denominadas tabaco relacionadas e é considerada a principal causa evitável de morte. Várias destas doenças ocorrem após períodos de latência que podem ter duração de 20 a 30 anos. A fumaça do cigarro contem em torno de 4700 substâncias, entre as quais vários oxidantes e cancerígenos. O consumo de cigarros é causa de 85% das doenças pulmonares crônicas e de 30% de todos cânceres. As doenças relacionadas ao tabagismo podem ser divididas em: (a) Respiratórias (DPOC, doenças pulmonares intersticiais tabaco relacionadas); (b) Cardiovasculares (IAM, AVC, doenças arteriais obstrutivas); (c) Neoplasias (pulmão, laringe, bexiga e outras); (d) Doenças do ciclo reprodutivo (abortos, descolamento prematuro da placenta, etc); (f) Doenças pela exposição ao tabagismo ambiental, também chamado de tabagismo passivo.
Todo profissional da saúde deveria estar capacitado a realizar a abordagem mínima dos tabagistas (taxa de cessação de 1 a 3%). Uma abordagem breve pode ter sucesso já que a interrupção do tabagismo depende de vários fatores: grau de motivação e de dependência, morar ou não com outro tabagista, presença de doença mental, uso de outras drogas, etc. Desta forma a abordagem com o objetivo de cessar o tabagismo e prevenir recaídas deve ser feita em todos os momentos, observando as janelas de oportunidade, como na internação hospitalar ou no atendimento no consultório.
A avaliação inicial do tabagista deve incluir exame clínico minucioso e teste de função pulmonar. Existem vários questionários para avaliação do tabagista e definição de suas características, como o teste de Fagerstrom (dependência física) e a Escala de Prochaska e Di Clemente (motivação).
A abordagem comportamental no tratamento do tabagismo tem por objetivos: orientar o indivíduo a reformular suas crenças e mitos relacionados ao tabagismo; desenvolver estratégias e habilidades para lidar com seus sentimentos e com a fissura; promover mudanças no estilo de vida, estimulando práticas de relaxamento (ioga, meditação, mindfullness) e atividades físicas (caminhadas e corridas). É importante que ocorra a troca por hábitos saudáveis; orientar sobre a alimentação, já que o aumento adicional de peso é verificado na maioria dos fumantes após deixar de fumar. A alimentação saudável, com baixa ingesta calórica e a prática de atividade física contribuem para que o IMC fique na faixa adequada.
Muitas vezes é necessário o tratamento medicamentoso durante um período médio de 12 semanas, podendo prolongar-se a critério médico e de acordo com as necessidades do paciente. A abordagem comportamental deve sempre ser feita e sua associação com o tratamento medicamentoso chega a triplicar as taxas de abstinência ao tabaco.
Parar de fumar é a mudança de hábito que mais tem impacto na qualidade de vida e na prevenção das doenças pulmonares. O controle do tabagismo é um dos investimentos em saúde pública com mais retorno positivo nos indicativos de morbimortalidade. No Brasil, as taxas de tabagismo ativo na população adulta vêm diminuindo devido às políticas públicas instituídas. A SBPT juntamente com a AMB teve aprovada no último ano a habilitação em tabagismo e estão abertas até 30/09/2018 as inscrições no site da SBPT para o curso EaD de habilitação em tabagismo, que fornecerá ferramentas para que todos os pneumologistas tratem o tabagismo de seus pacientes.
Dra. Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano
Médica pneumologista. Coordena ambulatórios para cessação do tabagismo desde 1999, Diretora do Serviço de Doenças do
Aparelho Respiratório do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.
O tabagismo está relacionado a inúmeras doenças benignas e malignas e corresponde à principal causa de morte evitável no mundo. Além disso, proporciona um gasto enorme no orçamento das nações. No Brasil, 56,9 bilhões de reais são gastos anualmente com despesas médicas e em perda de produtividade provocadas pelo tabagismo. Em contrapartida, o país arrecada anualmente 13 bilhões de reais em impostos sobre a venda de cigarros.
Além de evitar muitas doenças, parar de fumar pode proporcionar ao indivíduo várias recompensas. Abaixo enumeramos dez outros motivos para o tabagista parar de fumar.
1 - Garanta a saúde de seus filhos: filhos de fumantes correm risco de nascer com baixo peso
2 - Economize dinheiro: invista o valor gasto no cigarro no lazer com sua família
3 - Cuide de sua aparência: a pele do fumante é mais flácida e sem brilho
4 - Mantenha seu sorriso: a gengiva do fumante é mais inflamada e os dentes apresentam mais cáries
5 - Sinta-se agradável: o hálito e o odor do fumante podem incomodar as pessoas de seu convívio e afetar suas relações
6 - Seja livre: o fumante fica condicionado àquele cigarrinho no fim de um almoço ou de um jantar
7 - Melhore seu condicionamento: troque o cigarro por exercícios físicos. Assim, você não irá engordar ao parar de fumar
8 - Conserve sua memória: o cigarro age no sistema nervoso central comprometendo a memória do tabagista
9 - Passe menos tempo no trabalho e curta mais sua família: as escapadinhas ao fumódromo diminuem seu rendimento e levam ao
aumento do tempo gasto no trabalho
10 - Otimize o resultado de sua cirurgia: o fumo retarda a cicatrização e facilita a ocorrência de complicações pulmonares
após uma cirurgia
Os registros do Instituto Nacional de Câncer (INCa) para o biênio 2016/2017 apontaram para o diagnóstico de 600.000 novos casos de tumores malignos no país (destes, 180.000 são casos de tumores de pele não melanoma). Infelizmente a expectativa é de piora deste cenário, com previsão de 576.000 novos casos só para o ano de 2020. As neoplasias malignas são a segunda maior causa de mortalidade no país, com 190.000 óbitos por ano.
Nos homens brasileiros, os tumores mais frequentes são próstata (28,6%), pulmão (8,1%), colorretal (7,8%), estômago (6,0%) e cavidade oral (5,2%).
Nas mulheres brasileiras, os tumores mais comuns são mama (28,1%), colorretal (8,6%), colo do útero (7,9%), pulmão (5,3%) e estômago (3,7%).
Os dados apresentados pelo INCa sugerem um aumento entre os tipos de câncer associados ao envelhecimento da população e à adoção de hábitos de vida de risco, como tabagismo, dieta inadequada, falta de exercícios físicos e exposição a poluentes (mama, próstata e colorretal), além dos tumores causados por infecções evitáveis, como colo de útero (papiloma vírus humano – HPV) e estômago (Helicobacter pylori). Assim, as campanhas de estímulo aos hábitos de vida saudáveis somadas às ações de prevenção e diagnóstico precoce (rastreamento) poderiam evitar o aparecimento de muitos casos de câncer e permitir o diagnóstico precoce de muitos outros casos. Vejamos caso a caso:
Mama: evitar o tabaco, praticar atividade física e ter uma alimentação saudável, além de fazer exames periódicos recomendados, estão associados a uma diminuição de aproximadamente 30% do risco de desenvolver um câncer de mama. Além disso, o rastreamento com mamografia, quando bem executado, permite o diagnóstico precoce da doença, permitindo altas taxas de cura.
Colo de útero: o principal fator de risco para o câncer de colo de útero é a infecção pelo HPV. A implementação da vacinação contra o HPV pelo Ministério da Saúde em 2013, a realização do exame preventivo ginecológico e campanhas de educação sexual / sexo seguro permitirão, a médio/longo prazo, a diminuição da incidência da doença no Brasil.
Próstata: o envelhecimento dos homens brasileiros e a maior oferta de métodos diagnósticos à população podem explicar o aumento da incidência do câncer de próstata no país. Quando diagnosticados precocemente através dos exames de rastreamento, estes tumores têm bom prognóstico e altas taxas de cura.
Pulmão: o câncer de pulmão é considerado um dos mais agressivos. A mortalidade gira em torno de 90% em relação à incidência, principalmente porque a grande maioria dos casos ainda é diagnosticada em fases avançadas. 80% dos tumores de pulmão estão associados ao tabagismo. Nos dias atuais, para de fumar seria a maior medida de impacto em saúde pública no mundo.
Cólon e reto: o câncer colorretal é uma doença do estilo de vida moderno. Está associado ao consumo de carnes vermelhas e processadas, pouca ingestão de frutas, verduras e legumes, alta prevalência de obesidade e sobrepeso, inatividade física / sedentarismo, consumo de álcool e tabagismo. Um percentual de tumores colorretais se desenvolve a partir de pólipos adenomatosos. A ressecção destes pólipos previne o surgimento de um câncer. Assim, é recomendada a realização de colonoscopia aos 50 anos, mesmo em indivíduos assintomáticos.
Estômago: o câncer gástrico também está relacionados a hábitos alimentares. O consumo de alimentos frescos e a redução de alimentos conservados no sal contribuem para a prevenção dos tumores gástricos. O tabagismo, a obesidade e o consumo de álcool também estão relacionados com o desenvolvimento do câncer gástrico. Devemos estar muito atentos à bactéria Helicobacter pylori. No último congresso mundial de câncer gástrico ocorrido no ano de 2017 em Pequim, um painel de experts definiu que a erradicação do H. pylori ainda na adolescência consiste na medida de maior impacto na prevenção do câncer gástrico.
Cavidade oral: trata-se do quinto tumor mais frequente entre homens no Brasil. Assim como os demais tumores do trato aerodigestivo superior (faringe, laringe, esôfago), está muito relacionado ao tabagismo e ao consumo de álcool.
A palavra câncer vem do grego karkínos, que quer dizer caranguejo, e foi utilizada pela primeira vez por Hipócrates, o pai da medicina, que viveu entre 460 e 377 a.C. O câncer é caracterizado pelo crescimento celular desordenado, com tendência à invasão de órgãos vizinhos e metástases à distância.
O câncer é originado de uma ou mais mutações genéticas decorridas de predisposições hereditárias ou promovidas por agentes carcinogênicos (tabaco, álcool, radiação dólar, dentre outros).
Veja o vídeo abaixo e entenda um pouco mais sobre o câncer:
Uma publicação de 2016 da revista Nature mostrou que entre 75% e 90% dos tumores e até metade das mortes causadas pelo câncer são resultado de comportamentos que podem ser alterados. O tabagismo é o inimigo público número 1! Por outro lado, segundo dados do INCa, que em 2016 lançou um site sobre alimentação, nutrição e prevenção do câncer, a alimentação inadequada é classificada como a segunda causa de câncer que pode ser prevenida.
Entre os principais hábitos que podem ser modificados estão o tabagismo, a alimentação, o consumo de bebidas alcoólicas, o sobrepeso, o sedentarismo, a proteção contra a radiação solar e o sexo seguro. 80% dos casos de câncer de pulmão estão vinculados ao tabaco. 75% dos casos de câncer de cabeça e pescoço estão associados ao álcool e ao tabaco. 75% do risco de câncer colorretal se deve à dieta inadequada e cerca de 85% dos tumores de pele estão associados à exposição à radiação solar. A vacina contra o vírus HPV, o sexo seguro e o tratamento de lesões precursoras contribuem para a prevenção do câncer do colo de útero.
Hábitos dietéticos saudáveis e a erradicação do Helicobacter pylori são medidas efetivas na prevenção do câncer gástrico, assim como o consumo moderado de álcool e a interrupção do tabagismo. Estas duas últimas medidas somadas ao tratamento da doença do refluxo gastroesofageano contribuem para a prevenção do câncer de esôfago. Evitar o tabaco, praticar atividade física e ter uma alimentação saudável, além de fazer exames periódicos recomendados, estão associados a uma diminuição de aproximadamente 30% do risco de desenvolver um câncer de mama.
Um estudo publicado no New England Journal of Medicine em agosto de 2016 mostrou que pacientes obesos têm maior risco de desenvolver os seguintes tipos de câncer: colorretal, esôfago, rim, mama pósmenopausa, endométrio, cárdia, fígado, vesícula biliar, pâncreas, ovário, tireoide, meningioma e mieloma múltiplo.
TENHA HÁBITOS DE VIDA MAIS SAUDÁVEIS:
- Não fume!!!!
- Pratique exercícios físicos regularmente
- Escolha uma dieta rica em verduras, legumes, grãos e frutas. Tenha moderação com carnes vermelhas.
- Coma devagar; mastigue e saboreie os alimentos sem rejeitá-los.
- Aprecie açúcar, sal, alimentos gordurosos e bebidas alcoólicas com bastante moderação.
- Evite exposição prolongada ao sol entre 10h e 16h.
- Faça diariamente a higiene oral.
- Evite guardar sentimentos de mágoa e rancor: eles corroem o seu corpo.
- Procure expressar a gratidão: ela é um combustível para o bom relacionamento humano.
- Viva o dia de hoje plenamente, pois ele é único. Desapegue-se do passado e do futuro.
- Força: força para enfrentar as adversidades que irão se deparar durante o tratamento; força para superar suas dificuldades e limitações físicas e emocionais.
- Fé: fé em Deus e em sua religião; se não acreditar em Deus, tenha fé na humanidade como uma grande irmandade que se encontra interligada. Tenha fé na equipe que cuida de sua saúde.
- Fraternidade: cultive as verdadeiras amizades durante todo o caminhar de seu tratamento; a fraternidade transmite uma energia positiva que fortalece seu organismo.
- Felicidade: não deixe o medo e a depressão te consumirem; pratique atividades que te trazem prazer e felicidade; busque as companhias que elevem seu astral.
- Família: a base de tudo; fortaleça os laços familiares e esteja sempre que possível em convívio com sua família.
- Foco: não desperdice tempo nem energia com pensamentos negativos ou informações sem consistência técnico-científica. Mantenha o foco no tratamento e nos dias melhores que virão.